27.2.07

Os Olhos dos Passarinhos

TEXTO RETIRADO!

46 comentários:

António Melenas disse...

Olá Amigo,
pouca gente tem o poder de observação para ver com os olhos da alma o que à sua volta se passa. Quando se vê assim, as nossas recordações ganham uma outra sinceridade ao serem evocadas na escrita. Tu fazes isso muito bem

PS. Obrigado pela visita à minha Teresinha. Aproveito paa dizer que pus lá agora um novo escrito
Um abraço

Anónimo disse...

Meu Querido "mano"!

Li o teu post e estive sempre contigo. Dia de cozedura era dia de festa. Para nós, claro! Dia de grande canseira para aquela ou aquelas que amassavam a " alva e branca farinha" num alguidar de barro cor de fogo desmaiado que, há poucos anos, foi roubado lá do alpendre. Estava debaixo da cantareira,à vista de quem passava e lá foi servir outras amassaduras. Mas , nestes dias, eu quase não saía do caminho de terra batida, entre a cozinha interior e a de fora , ali mesmo ao lado do forno. A avó amassava e a mãe, de atalaia, perguntava se queria ajuda. Era pão para quinze dias. E cheirava a trigo puro do cerro, da charneca, das campinas...
Depois do pão, entravam os bolos: os esquecidos e os outros, os maiores, feitos de farinha, acúcar e banha. Que azáfama! A Bélinha não parava! Tinha " bicho carpinteiro" o "diacho da garota". Queria comê-los ainda quentes, mal saídos do forno, a fumegar.
Meu querido conterrâneo,"parente", "mano" serrenho trazes-me estas lembranças recheadas de ternura,do brilho dos olhos arregalados da tia e da avó,das "festinhas" do avô. "Come filha, ficas crescida e forte,como a avó e a mãe- dizia o avô."
Ainda lá está a azinheira, enorme, junto à estrada património qe tu conheces, um pouco acima da outra azinheira que também é património. Ainda lá estão as oliveiras e a figueira lampa cujos figos, do tamanho de punhos, quase não amadureciam.
Desculpa tantas palavras, mas fizeste-me falar o coração. E esta mente diz o que lhe corre nele.
Beijinhos aqui das bandas deste Algarve que tu conheces tão bem.Hoje, vai um beijo dos Juncais.

Anónimo disse...

Reli e acho que o pão era amassado para oito dias.
Tenho falhas! A idade não perdoa!
Beijinhos

Anónimo disse...

Caro conterrâneo, mais um texto espectacular. Um texto difícil de ler e mais ainda de escrever. Meio magia, meio realidade..olha não sei que dizer mais. E o fim? espectacular.. sem mais nada, espectacular!
Cumprimentos.

Teresa David disse...

Gosto de histórias de memórias bem contadas, com a textura de escrita e a beleza do tema como esta. E você sabe escrever, e bem, o que ajuda muito. Gostei imenso.
Bjs e obrigada pela visita
TD

Maré Viva disse...

Tocante, transbordando ternura, a tua história encantou-me,acredita que me transportou até junto desse forno, perto da oliveira secular, senti até o cheirinho a pão cozido!Obrigada por nos ter trazido esta lembrança, obrigada pelo teu comentário,lá...no meu Barlavento.
Um beijo.

Lilis disse...

Muito raramente vou a Quelfes...

mas agora já sei onde fica a casa da foto...

Beijos grandes...

ps: cusco é giro ;) Obrigado pela ideia... um abraço!

chipichipi disse...

As lembranças que me trouxe! Obrigada. Infelizmente trouxe também mais umas lágrimas de saudade, da avó que já me deixou e que também partilhava o mesmo ritual de benzer o pão. Do avô que me adoçava a alma. Aí como me abraçaram estas saudades e que felicidade me trouxeram. Obrigada, muito obrigada!

Alberto Oliveira disse...

Um retrato muito bem tirado ("Olha o passarinho!") de momentos de vida que não esquecem e que tu relatas para memória futura com muita emoção. Parabéns!

Também me lembro quando era miudo, dos "passarinhos de massa branca" do padeiro. Não me recordo era se tinham olhinhos...

Laura disse...

Alma minha onde andas?, Que poesia tão bela, e eu que tive uma avózinha assim, uma avózinha muito querida que quase se metia dentro do forno, também, que fazia broinhas pequeninas para os netos e bisnetos, que era tão linda de coração.. Hoje o forno já mal se acende, a unica tia que resta compra o pão, e já nada é como era, mas lembro sim, os cheiros e os sabores da nossa casa da aldeia, onde vamos ainda, mas já nem estão lá, apenas mudaram para o cemiério, mais la acima... E sonho com ela, pois, se sonho..Que coisa boa poder sonhar com eles, senti-los junto de nós. Eu sinto.. beijinho de mim, ó cusco amigo..

Cris disse...

A minha bisavé tb fazia pão... e tb havia passarinhos, tenho pena de ter sido a última a saber que os passarinhos tb gostam de pão acabado de fazer.

Beijinhos, o texto é lindo!

Cris

António disse...

Olá!
Começo a reconhecer-te o jeito de escrever.
Um jeito especial que permite fazer textos muito lindo e muito originais na sua forma e qualquer que seja o conteúdo.
Mas tens preferido falar nas coisas do passado.
Verter aqui as memórias antes que elas se percam.
Fazes bem!

Obrigado pelo comentário ao meu conto "A ruiva e o namorado".
Confesso que também me faz confusão a adopção de crianças por homossexuais.
Quando as questão ultrapassam os interessados e vão tocar em terceiros, especialmente crianças...cuidado!

Um abraço

Isamar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flor de Tília disse...

No regresso às origens, passei pela Fonte, não colhi um raminho de murta porque ainda não está florida mas refresquei-me na água férrea da minha "aldeia".
A Primavera está à porta, o sol teima em dizê-lo, o céu da nossa terra insiste e os teus passarinhos chilreiam nos ares deste Algarve, sempre lindo, sempre hospitaleiro.
Um beijinho "mano" Cusco!Temos escritor! Com magia! Muita! Voltarei.

p.s. não tens passado pelo meu "vulgaridades"? Que se passa conterrâneo?

Pascoalita disse...

Bem ...
É fim de mês e por aqui o trabalhoi abunda sempre nestas alturas, mas como sou impaciente, obriguei-me a ler msm de fugida (voltarei a fazê-lo mais logo com mais calma)
Só posso dizer que é delicioso, fez-me ouvir o "restalhar" da lenha a arder no forno, o calor nos meus braços tantas vezes indigitada para o manter quente até adquirir aquela côr necessária, o rodo a arrastar as brasas, a cinza a cair na "pilheira", e o cheirinho desse seu pão que o cheiro desse seu pão que não é mto diferente do pão da minha infância.
Em vez de olhinhos, eram sardinhas inteiras que maqozitas pequenas "desviavam" da terrina para enriquecer a sua "bolinha" que a mãe fazia questão de moldar para cada um dos rebentos.
Depois, uma espécie de concurso em que o júri eram os 6 irmãos ...
"ver qual era a mais melhor boa" eheheheh
Um texto fantástico! Excelente! Fiquei emocionada. Conseguiu fazer-me ver, de olhos fechados, todo esse ritual tão bem descrito.
Adorei ler mas sinto que o voltarei a fazer uma e outra vez.
1 beijinho

Lia disse...

Um texto que me fez recordar a minha infância...
Obrigada

Beijinhos

Teardrops disse...

Mais uma vez me levaste às casas das minhas avós, só me faltaram as galinhas à solta nos quintais, os canteirinhos de flores ao canto, bem longe dos animais, mas onde sempre colhia uns lobinhos ou outras flores pequeninas que já nunca encontro...

E o sabor daquele pão e daquela broa nunca mais voltam... mesmo depois de estar guardado na arca de madeira, envolvido em panos brancos, durante quase uma semana!

Beijos ternos da gata

Páginas Soltas disse...

Peço desculpa se entrei sem pedir autorização...mas também sou um bocado cusca...

Começo por agradecer todo o conteúdo inserido no seu texto. À medida que o ia lendo...mil imagens ofuscavam as minhas recordações de infância!! Nem que fosse eu própia a escrever ( claro que o não fazia com a mesma qualidade)....mas tudo se passava assim..tal e qual!

Parei um bocado para reflectir...

Foi bom..ter parado aqui neste seu espaço!

Se me permite vou colocar o seu link no meu Blog para voltar com mais facilidade!

Bem haja!

Um abraço amigo da
Maria

Licínia Quitério disse...

Bonito mergulho na infância. No futuro também, como muito bem observa o António Melenas. Cultiva esse teu prazer de escrever que tão claramente transparece nos teus textos. Que venham mais.

Um beijo.

david santos disse...

Olá!
Isto é olhar e ver. Pois muitos de nós olham mas não vêem. Tu descreves aqui muito bem essa diferença: o olhar e ver; e o ter olhos mas não ver. Obrigado por teres uns olhos que vêem.

(Quanto à outra coisa, acertas-te em cheio. Só não vai acontecer como dizes, porque uma poeta americana me pediu para escrever um trabalho em inglês da minha autoria e, como fiz isso com as pessoas de língua espanhola, não me fica nada bem não oferecer um trabalho a uma ilustre senhora que só fala inglês. Pois era minha intenção acabar nesse dia com uma homenagem à minha querida e sempre amada Elis Regina. Foi esta homenagem que me trouxe aos blogs. Era expandir o meu blog por todo o mundo, o mais que conseguisse, claro, e acabar com ele, o blog, mostrando-a a todo mundo, PACIÊNCIA! Eu sei que ela não me levará a mal. Contudo, logo a seguir à postagem em inglês, vou fazer a homenagem à minha Elis e assim fica a minha experiência por estes lados. Experiência que adorei, muito sinceramente.)
Abraços

david santos disse...

Desculpa. O meu próximo trabalho em inglês é sobre o olhar e não ver. Dentro do que tu aqui acabas de escrever.
Desculpa voltar.
Abraços.

Lusófona disse...

Um texto muito cheio de sentimentos, de lembranças vivas... muito bonito.

Minha avó paterna, também fazia pão. Lembro-me do forno a lenha e parece que até posso sentir o cheirinho tão bom do pão acabado de cozer!!
É tão maravilho ter avós, parece que o amor é dobrado...

Bjs

Laura disse...

Olá, já escrevi no meu blog, mas volto cá e aqui sempre lê primeiro..
A minha amiga chama-se
Maria fernanda Barreira Neto (lembro-me de memória após estes anos todos 35 quase..) acho que era de Areias brancas, devia ser o sitio ou lugar e depois Barreiras Brancas.. era casada na altura com um moço de lá também, o Filipe, e tinha uma menina de 4 anos a Paula.. a ma~e dela é que vivia lá, e eles depois do 25 de Abril, nãos ei se por lá ficaram, se foram pelo mundo..ou se moram aí..Quem dera.. Obrigada querido cusco, e agora a Cusca sou eu ehhhhhh. Jinho grande de mim...

Isabel disse...

Amei os olhos dos passarinhos e a tua avó e a tua escrita... amei a forma como os teus olhos veem.

Veio-me uma lagrimita de saudade da minha avó paterna, a minha adorada avó Celeste... feia e rezingona, mas que tomou conta de mim e que me adorava e eu adorava-a a ela.

A minha avó não fazia pão, mas fazia o melhor pão de ló do mundo... e fazia-o para mim rechedo e coberto de amor a qualquer hora do dia bastava eu pedir. Primeiro dizia que não.
Não era a sua palavra favorita, depois eu esperta fazia beicinho, dava-lhe os beijos que de mais ninguem ela tinha, puxava-lhe pela saia e dizia-lhe que era a avó mais linda do mundo e ela sorria e transpormava o não em sim, e o seu amor por mim em pão de ló.

Tenho saudades dela e do seu pão de ló que sabia a amor.

Desculpa a confidencia mas avós é o meu fraco... tanta coisa me doeu na vida mas a falta dela doi-me mais que qualquer outra...

Lindo o teu texto!

Isabel

Páginas Soltas disse...

Olá amigo,

Obrigada pelo comentário que me escreveu!

Obrigada pelas palavras ( tão cheias)de humildade!

Mas não seja tão " humilde"...pois escreve e descreveu tão bem, toda uma época...que me faz humedcer os olhar das lindas recordações que tenho!

Para mim será um prazer...em receber a sua visita!

Abraço amigo da
Maria

Anónimo disse...

"mano cusco"
A tua sugestão não caiu no esquecimento. Ando a tratar dela mas ontem não consegui fazer novo post. Talvez esta noite ou amanhã apareça algo de novo.
Beijinhos

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Que coisa... noss...
Adorei o texto. Belíssima composição.
Esteja certo que por aqui estarei mais vezes... p/ revirar suas viagens,, abrçs sentidos.
;)

Até breve!

Cris disse...

Passei por aqui para te dar um beijinho de Fim de Semana :)

cris

Laura disse...

Olá Cusco..
Realmente o nome de Neto nãos ei se é dela se do marido. O marido acho que era vizinho lá do memso bairro, sós ei que se chamava Filipe, mas deixe estar que um dia se for aos Algarves com calma, procurarei lá. A mãe já na altura não era muito nova e já lá vão 35 anos..Obrigada pela ajuda, mas se for o apelido do marido, já não é a mesma coisa.. Obrigada sempre..Beijinho de mim..

Maria Carvalho disse...

Foi um prazer visitar-te. Através da blugaridades, cheguei aqui e gostei. Muito.

S. disse...

Este post deixou-me com aquele brilhozinho húmido nos olhos que denuncia a emoção que me ia pairando no sorriso. Primeiro pensei dizer: um belo texto realista. Depois descobri que isso era pouco, que estas palavras transbordam muito mais. Pintaste-me um quadro rural, recheado de cores e sabores. E agora também eu fico a sentir o perfume a limões, a terra e a pão.

Lindo. Parabéns.

Flor de Tília disse...

Meu querido "mano" Cusco!

Já todos devem ter compreendido que Cusco é um cão de raça pequena. E o teu é lindo!Também tenho uma Cusca.Sabe-se lá filha de quem!Não servia para a caça e foi abandonada. Encontrámo-nos há uns anos, num domingo, à tardinha. Eu ia a caminho de Lisboa, ela vinha em busca do dono. Triste, cabisbaixa, amedrontada. Parei, dei-lhe comida e adoptou-me.
Bem, meu querido conterrâneo, tu deixas-me tão vaidosa com os comentários que me fazes! Eu sei que pouco valho mas a amizade que começa a unir-nos, tivemos berços perto, faz com que leia os teus comentários com um brilhozinho nos olhos.É que nunca pensei encontrar aqui alguém que tivesse gostos tão semelhantes aos meus. Afinal, o cheiro das estevas, dos "rasmonos", dos pinheiros e eucaliptos tornou-nos semelhantes. Também gosto mais de prosa do que de poesia mas gosto muito de Aleixo.Poesia/ prosa boas? É isso mesmo! São as que gosto! Conheço todas as quadras de Aleixo e fui aluna e grande amiga do Dr. Joaquim Magalhães, o homem que com Tóssan, o tirou do anonimato. Conheci bem a esposa de Aleixo e até fomos vizinhas durante um tempo.Uma senhora baixinha, sempre de negro vestida, muito humilde e doce. Hoje, apetece-me estar aqui a falar, a falar, a falar...
Quanto à tua aventura pela poesia, atira-te a ela! Não fomos nós que, " por mares nunca dantes navegados" passámos "inda além da Taprobana"? Força! Estarei cá para ler-te, ainda que o Blugaridades tenha um fim à vista. Como sabes, continuarei aqui e a comentar-te.
Estou cá para isso!
Beijinhos

poca disse...

tanta nostalgia.. tamanha verdade..
quase que consegui tamb´´em sentir o cheiro do pão.. e ver os olhinhos :)
antigamente parece que as coisas tinham outro sabor, outra emoção..
os avós das crianças de hoje.. são bem diferentes..
gosto disso antigo, carregado de tradição.. lembrando-nos que somos gente da terra..
pena.. esta dita evolução..

e pronto.. deixaste-me a mim nostalgica também..

Laura disse...

Olá cusco, eu também tive uma avózinha querida , no campo, numa aldeia perto de Montalegre, e ainda hoje lá vou, a nossa casa está lá já de 1670 as gentes sãoa s mesmas, ams a vida claro que não, e lembranças dessas tão doces, os cheiros, tenho-os comigo, sempre..Eu amei e amo os meus avós, mesmo depois de irem para o outro lado.. Adoro ler-te.. beijinho de mim..

Anónimo disse...

Belo texto, como sempre... eu não vivi isso tudo, nasci e cresci fora de Portugal, mas com o carinho que descreveste deu para imaginar... beijinho

Rafeiro Perfumado disse...

Muito bonito, Cusco. Nem vou fazer comentários "espirituosos"... Um grande RAUF para ti!

lifeyes disse...

As casas dos avós sempre foram uma delicia :) que saudades eu tenho...

Muito bonito este texto

as velas ardem ate ao fim disse...

Fechei os olhos e imaginei me perto do forno.

Acredita está lindo!


bjos

Cris disse...

Beijinhos e Boa 2ªFeira, até amanhã

Cris

Páginas Soltas disse...

Gostei tanto do que li neste Blog...que voltarei sempre para me deliciar com as belas prosas!

Voltarei cá todos os dias... para ver se há post novo!

Uma boa segunda feira.

Abraço amigo da

Maria

Laura disse...

Olá cusco..Vim cuscar um Bom dia e levar um jinho de abalada... sabe tão bem entrar na casa de um amigo e sentirmo-nos tão á vontade.. bebo um cafézinho se tiveres, e trago um docinho de Braga pa ti.. Beijinho de mim..

GTL disse...

preciso de ajuda a encontrar dono para um canito.
Fotos no blog

Obrigada
MDB

Adrianna disse...

Uma descrição perfeita, escrita com muito humor, que me lembrou a minha infância.
Em casa de meus pais (a minha mãe) cozia-se pão (já trigo, na altura) 1 vez por semana, exactamente 1/dia!
No norte não se usava o barro mas a madeira ("masseira" para amassar e tabuleiro depois de "finto" (lêvedo))para transportar áté ao forno que geralmente é fora de casa.
Era pão singelo ... sem "olhos de passarinhos".
Fico sempre encantada com a forma como escreve.
1 beijo

africana disse...

Realmente..ao lê-lo não pude deixar de ficar presa as palavras e deixar escapar um sorriso, lembrando-me dos tempos em que criança ainda, vinda de áfrica, passava parte das minhas férias na aldeia que viu nascer o meu pai, uma aldeia beirã perdida entre montes e penhascos.Habituada ao ar livre,Lisboa era para mim uma "jaula". Quem me queria ver feliz era dizerem-me "no proximo fim de semana queres ir ver a avó à aldeia?"O dito fim de semana nunca mais chegava!Aí sim, dava largas a minha condicção de "maria rapaz", subir montes,trepar as árvores,ir ver se os potinhos da resina já tinham alguma coisa,tomar banho na ribeira,arranjar a maternidade dos girinos, ir à fonte encher o cântaro da água, e que fresquinha, regar as hortinhas à avó, que havia ali perto de casa com um objecto que, desculpem se digo asneira se chamava "aguadouro",um balde na ponta de um pau comprido, se o fazia ou não já não me lembro mas que me molhava toda, ai lá isso tenho a certeza, era cada molha, nunca tinha visto um "regador" assim,ahaaha!A apanha das espigas do milho,vê-las espalhadas no terraço e ao serão separar os grãos com as demais mulheres e crianças.O forno público ficava mesmo ali em frente da casa da avó, e adorava ver a massa a entrar e o pão a sair, quentinho.Apesar do meu pai ter uma panificadora lá pelas africas..aquilo era tão diferente e tão divertido, nesta massa eu podia tocar e fazer o meu próprio pão!Era tão bonito, adorava aquela vida.Vivia feliz os tempos que lá passava, quaze me fazendo esquecer as saudades que tinha da minha terra lá longe..Guardei sempre esse respeito pela a aldeia,pela terra, ainda hoje lá vou sempre que posso e até "inventei" a festa da família, já lá vão uns anos, de dois em dois anos.Somos para cima de uma centena e ficava cada vez mais dificil ver-nos,uma vez que vivemos tão afastados uns dos outros. Esta centena aparece a partir de onze irmaos e irmãs,descendência que os meus avós paternos deixaram.Lá nos juntamos naquela aldeiazinha,e é uma festa.Começamos por uma missa lembrando os familiares já desaparecidos( o ano passado faltou o padre, foi uma tia quem a celebrou, ahaha),alugamos a casa do povo por esse dia, pedimos que um restaurante da zona nos confecione o almoço, que é servido em primeiro lugar aos mais velhos pelos filhos e netos e levamos à parte uma boa merenda para o lanche e ceia.Musica,cinema e bailarico, é uma festa complecta! Alguns vão desparecendo, outros nascendo, mas o importante é que conseguimos transmitir aos filhos,já alguns netos e bisnetos também, esse amor à família e à terra.Amo as minhas raízes!

Anónimo disse...

Eu já tive alguns passarinhos desses...tu também.
Esse forno a lenha ainda coze, quando o rei faz anos...mas coze!
Passarinhos com olhinhos de semente de alfarroba, tua cusquinha já teve, minha também!
A diferença é que elas tiveram um passarinho da avó/tia delas e nós de nossas avós...
Nossa geração não coze mais...vivemos das lembranças e recordações...os passarinhos estão prestes a bater asas e voar para sempre!
Ao menos que fique este "passarinho" aqui aprisionado para todo o sempre...e sempre alguém o poder cheirar, sentir, imaginar e voar!

Obrigada por me teres feito voltar atrás uns anos...
Bjo,
IT