3.12.07

PEDRO: OS MENINOS NUNCA MORREM!







Sabes PEDRO, o tio ainda joga futebol!
O nosso jogo naquela noite foi interrompido mas eu continuei a jogar, por ti e por mim.
Sabes, não cheguei a fazer aquele golo que tu querias. Eu era o teu ídolo a tua referência a tua baliza no horizonte, o tio jogador de futebol….Grande, enorme aos teus olhos ávidos de golos. Eu nunca caía…!
A nossa bola amarela continua guardada. Está tudo dentro dela. Os dias em que vínhamos juntos da escola e jogávamos junto ao velho casarão, com o gato a correr de roda de nós…O vento junto à fonte onde íamos lavar a cara. A tua bicicleta está também lá dentro. As derrapagens que fazias, as travagens, e os cavalinhos trémulos:
-Estás a ver tio?
E o tio a ver as derrapagens, as habilidades, os cavalinhos. A sorrir por dentro e a mostrar cara marota: Cuidado tu vais cair…(Os putos nunca caem) e tu a rires com os golos derramados pelo sorriso.
E o gato (os gatos também nunca caem) a correr na frente, a meter-se dentro da bicicleta, a saltar para dentro da bola, cheirando à terra quente e seca…O avô, a avó, o mano a mana, a tia… A Mãe … todos guardados dentro da bola amarela. A prima, (nasceu nove anos e nove meses depois de ti, nove meses e nove dias depois de a bola ficar guardada) segurando a bola, brincando com o teu primeiro golo…
O cão (Os cães que também nunca caem) ofegante procurando o gato dentro da bola e a bola amarela cheia de sonhos ainda, sem golos marcados correndo em direcção à estrada. E a estrada desfeita, cheia de sonhos espalhados na berma, pedaços de ti, pedaços de vida desunidos, uma perna caindo do lençol, um bracinho branco escorregando dos dedos sem vida e pendurado a um bombeiro sem rosto… pedaços de terra caiada de sangue a escorrer da boca e da bola…. e a bola guardada na minha casa, cheia de lágrimas amarelas da cor da terra castanha, deixando cair uma perna e um bracinho sem vida..! E o Bombeiro com o coração no lugar o rosto:
Está morto….!
A noite longa vestida de lágrimas pretas derramadas pelo telefone:
-O Pedro morreu esta noite! (No dia anterior marcaras o teu primeiro golo)
E a bola amarela a derramar a despejar dias e anos. A despejar golos, a despejar o avô e a despejar o vento que ondulava o jacto de água na fonte… A derramar a bicicleta e nós dois montados fazendo derrapagens, travagens, habilidades e cavalinhos, eu na esperança de ainda marcar aquele golo que tu querias, tu segurando e abraçando com carinho o teu primeiro golo e os dois pedalando, pedalando, pedalando cada vez mais forte:
-Cuidado vamos cair tio……ai,ai.ai!
E eu, ao lado do lençol sem branco, agarrando o teu bracinho pendente sem vida, sem dedos, passo-te a mão na cabeça adormecida e sussurro-te ao ouvido:
O Blog do tio, acaba aqui, morre aqui agarrando os teus dedinhos, mas fica prometido, fica combinado que: Os putos nunca caem, os MENINOS NUNCA MORREM!


ESTE BLOG MORREU AQUI!



FIM


1.12.07

DESPEDIDA

TEXTO RETIRADO